Primeira Exposição de Rochas e Minerais: Curiosidade, Protagonismo e Integração Comunitária
Professor Guilherme Barbosa


Do Interesse Espontâneo ao Projeto Coletivo
A ideia da Primeira Exposição de Rochas e Minerais não foi planejada em uma reunião pedagógica formal. Ela emergiu da sala de aula, durante uma sequência de atividades em Ciências da Natureza focada no solo, na composição mineral do território e na relação entre os recursos naturais de Cocalinho e a vida das comunidades locais.
O que começou como uma proposta circunscrita — trabalhar conceitos de mineralogia e geologia — rapidamente transbordou os limites da turma. Os estudantes demonstraram uma curiosidade genuína e contagiante pelo tema. Suas perguntas iam além do conteúdo programático: "De onde vêm essas rochas?", "Como se formam?", "Por que aqui em Cocalinho há mineração?", "Como a gente pode usar esse conhecimento?"
Essa escuta atenta me permitiu reconhecer que tínhamos diante de nós não apenas uma oportunidade de ensino, mas um momento pedagógico fecundo — aquele em que o interesse genuíno dos estudantes se encontra com saberes pertinentes ao território. A decisão foi transformar a atividade em um projeto coletivo que envolvesse múltiplas turmas e a comunidade escolar.
Construindo Parcerias e Saberes Compartilhados
Desde o início, a exposição foi concebida como uma ação de integração entre escola, famílias e parceiros institucionais do território. Esse princípio de homologia — aquilo que propomos aos estudantes deve refletir as práticas que esperamos deles — orientou toda a organização.
As famílias foram convidadas não como espectadores, mas como colaboradores ativas na coleta de amostras, na organização dos materiais e na preparação dos espaços. Muitos estudantes trouxeram rochas e minerais de suas propriedades, ampliando significativamente o acervo da exposição e reforçando a conexão entre os saberes escolares e a realidade vivida.
A parceria com a Cavasa Mineração (Grupo Roncador) e a Fazenda Água Viva (Grupo SOU) agregou dimensões técnicas e éticas ao projeto. Especialistas em mineração e gestão ambiental compartilharam conhecimentos sobre:
Os processos geológicos que originam os minerais;
As práticas de mineração responsável e sustentável;
O impacto ambiental e social das atividades extrativistas;
As possibilidades de diálogo entre desenvolvimento econômico e preservação territorial.
Essa convergência de saberes — científico, técnico, comunitário e experiencial — criou um espaço de aprendizagem autêntica e multidimensional.
O Protagonismo Estudantil em Ação
O que diferenciou essa exposição de muitas atividades escolares foi a centralidade do protagonismo estudantil em todas as etapas. Não se tratava de estudantes executando instruções de adultos, mas de estudantes sendo os agentes principais da construção do conhecimento compartilhado.
Os estudantes:
Investigaram as amostras, identificando características, propriedades e possíveis origens;
Prepararam painéis informativos que combinavam dados científicos com registros visuais e narrativas sobre o território;
Organizaram os espaços da exposição, definindo roteiros e criando cenários de aprendizagem para visitantes;
Conduziram as apresentações para outras turmas, assumindo a posição de mediadores e educadores;
Dialogaram com o engenheiro convidado, formulando perguntas que refletiam curiosidade autêntica e pensamento crítico.
Nesse processo, os estudantes não apenas aprenderam conteúdos de Ciências da Natureza alinhados à BNCC — compreensão de processos geológicos, propriedades de materiais, relações entre ser humano e ambiente —, mas também desenvolveram habilidades transversais: comunicação, trabalho colaborativo, liderança, pensamento crítico e responsabilidade social.
Integração Comunitária: Aprendizagens que Extrapolam o Espaço Escolar
A exposição tornou-se um evento comunitário, que ultrapassou as paredes da escola. A presença de especialistas, a abertura para visitantes da comunidade e a documentação das apresentações reforçaram a mensagem de que a escola é um espaço vivo, conectado ao território e às suas questões.
Para muitos estudantes, foi a primeira oportunidade de compartilhar publicamente o conhecimento que haviam construído. Essa experiência de ser reconhecido como produtor de saber — e não apenas consumidor de informações — marca profundamente a trajetória educativa.
Além disso, a exposição fomentou diálogos importantes sobre sustentabilidade, mineração responsável e o papel da comunidade escolar na preservação ambiental — temas que atravessam a realidade de Cocalinho e que merecem estar no centro das reflexões pedagógicas.
Reflexão Pedagógica: Quando a Curiosidade se Torna Aprendizagem Significativa
Essa experiência confirmou um princípio fundamental da educação do campo: as melhores aprendizagens surgem quando a escuta atenta encontra a intencionalidade pedagógica. Quando partimos genuinamente do interesse dos estudantes — daquilo que os move, que os questiona, que faz sentido em suas vidas — o conhecimento deixa de ser abstrato e se torna encarnado, vivido.
A exposição também evidenciou a potência da homologia de processos: porque convidamos os estudantes a serem protagonistas de suas aprendizagens, eles aprenderam o que significa protagonismo. Porque criamos espaços para diálogo com especialistas e comunidade, eles compreenderam que o conhecimento é construído coletivamente. Porque valorizamos seus saberes locais, eles reconheceram a legitimidade de seus contextos.
💬 Reflexão do Professor Guilherme Barbosa
"Quando os estudantes se sentem protagonistas do que constroem, o conhecimento deixa de ser apenas conteúdo: vira experiência, vira vida. E quando isso acontece, nós professores também nos transformamos — passamos de transmissores a mediadores, de gestores de conteúdo a facilitadores de aprendizagens significativas."



📍 Localização
Zona Rural – Cocalinho / MT
Escola Rosa Penido Dalla Vecchia